quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Marcas de vida

Ontem foi o primeiro dia de aulas deste que será o último ano na Faculdade. Apesar de ainda agora ter começado, está sempre presente em alguma parte de mim a ideia de que me estou a despedir de tudo aquilo, que umas vezes melhor outras pior, forma uma grande parte da minha vida há cinco anos. Alguma coisa em nós lembra-nos constantemente que daqui a um ano teremos que "crescer", teremos que dar um passo gigante e que de uma forma ou de outra nunca mais estaremos juntos naquele ambiente. Neste último ano parece que procuro aproveitar todos aqueles sítios mais uma vez, todas as conversas que temos, todas as gargalhadas que damos, algumas fotografias para a posteridade, tudo o que fica guardadinho nas caixinhas da memória.

Vinha para casa ao fim do dia a pensar nisto tudo e a observar, como de costume, as pessoas que estavam no Cais do Sodré à espera do comboio. Naquele sítio tudo acontece, tudo se vê, tudo se passa.
Na fila dos bilhetes alguém me toca no ombro, olho para trás e lá estava ela, uma senhora pequenina devido às maleitas da coluna, cabelos branquinhos, as rugas de quem já viveu muito e muito mais tem para contar. Pergunta-me se a caixa está aberta mas abre um sorriso imenso e diz "tenho que me encostar um bocadinho". Andava devagarinho e fazia-me lembrar pessoas de quem tenho muitas saudades, retribuí o sorriso. Pediu-me que a acompanhasse ao comboio porque as pernas já não são o que eram e tem medo de cair. Lá fomos, no início de uma grande conversa que tenho a certeza que não esquecerei.
Era frágil, como uma criancinha, mas uma criança com mil histórias, mil histórias que partilhou comigo, na magia dos seus 76 anos de idade. Tem filhos, tem netos, tem um legado e uns olhos brilhantes ao falar em tudo isso. Sobretudo, a vontade que ainda tem de ver a sua Lisboa, de passear pela sua cidade, relembrar como era antigamente e sentir como é agora. Contou-me sobre as pessoas especiais que outrora conhecera, falou-me de lugares chiques, de lugares menos bonitos, mas sempre terminando num "Eu gosto tanto de passear em Lisboa". Descobrimos ambas (e lembrei-me de ti, Vitor) como ficamos contentes ao passar pela Brasileira onde o nosso querido Pessoa continua sentado, ao olhar para ele e lhe dizermos "Olá" em silêncio, ao passearmos com ele por mundos infinitos onde tudo pode ser como nós quisermos.
Acabou a viagem, chegámos a Oeiras, dei-lhe o braço à saída do comboio. Disse-me "Muitas felicidades minha querida", oferecemo-nos um sorriso - que melhor presente?

Obrigada D. Aurora!!!

3 comentários:

Princess Aurora disse...

Oh tem o nome da Princesa!

Anónimo disse...

Adorable :)

gothic cat disse...

taum fofa**************************